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Foto do escritorMarta Rangel

Kintsugi - a arte de remendar as "falhas"

Kintsugi (金 kin = ouro | 継ぎ tsugi = emenda) significa, literalmente, "emendar com ouro" e é uma técnica de restauração de cerâmicas e porcelanas que utiliza laca ou cola misturadas com pó de ouro, prata ou platina.


Segundo a Japan House, a técnica surgiu no século XV quando o xogum (mais alto título militar concedido pelo Imperador) Ashikaga Yoshimasa enviou uma cerâmica de cerimônia do chá para ser restaurada na China. Quando a peça foi devolvida, o xogum não gostou da técnica chinesa, que utilizava agrafos, e pediu a artesãos japoneses que desenvolvessem outra forma de restaurá-la. Em vez de tentarem disfarçar as falhas da peça que se tinha partido, os artesãos usaram urushi (laca japonesa) com ouro para colar os pedaços e tornar evidentes as partes que tinham sido remendadas.


O mesmo acontece connosco, seres humanos. Todos quebramos. Todos temos falhas. Todos acumulamos fracturas - mais ou menos expostas - no corpo, na mente, no espírito.




No Kintsugi, o processo de secagem é determinante: pode demorar semanas - ou mesmo meses - até as falhas endurecerem. Connosco também. É a forma como remendamos as nossas "falhas" que pode fazer a diferença. É dando tempo e espaço a nós próprios para curar as feridas, para "endurecer", que podemos tornar-nos "peças" melhores, mais conscientes, mais evoluídas, mais "curadas".


Este lado filosófico da técnica Kintsugi, que valoriza as imperfeições, dando-lhes uma nova beleza, fez-me lembrar uma frase da letra da música "Anthem" de Leonard Cohen, que se tornou célebre: "There is a crack, a crack in everything/ That’s how the light gets in" ("Existe uma falha, uma falha em tudo/ É assim que a Luz entra")


Talvez devessemos aceitar mais as nossas "falhas", a nossa vulnerabilidade, como um sinal de força e não de fraqueza. Talvez devesse ser mais natural falar e assumir os nossos "erros" como parte do processo evolutivo, enquanto seres humanos. Talvez devessemos valorizar mais SER do que TER (ou fazer).


Eu tenho falhas. De vários tipos. E acredito, cada vez mais, que é por aí que a Luz entra. E vocês?


 

Roupa: Coisa Nossa

Maquilhagem: Sara M. Makeup



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